5º Domingo da Páscoa

LA_VERA_VITE

1ª Leitura – At 9,26-31
Salmo – Sl 21,26b-27.28.30.31-32 (R. 26a)
2ª Leitura – 1Jo 3,18-24
Evangelho – Jo 15,1-8

“Eu Sou a videira e vós os ramos!”

“Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: 1‘Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. 2Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. 3Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. 4Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira  e vós os ramos. Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. 7Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedí o que quiserdes e vós será dado. 8Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.”


Comentário por Padre Simeão Maria, fmdj.

No Antigo Testamento e de forma especial nos profetas, a “videira” ou “vinha” eram símbolos do Povo de Deus. Israel era apresentado como uma “videira” que o Senhor arrancou do Egito, que transplantou para a Terra Prometida e da qual cuidou sempre com amor (Sl 80,9.15); era também apresentado como a “vinha, que Deus plantou com mudas selecionadas, que Ele cuidou e da qual esperava frutos abundantes, mas que só produziu frutos amargos e impróprios (Is 5,1.7; Jr 2,21; Ez 17,5-10; 19,10-12; Os 10,1). A antiga “videira” ou “vinha” do Senhor revelou-se como uma verdadeira desilusão. Israel nunca produziu os frutos que Deus esperava.
Agora, Jesus apresenta-Se como a Videira Verdadeira plantada por Deus (v. 1). É Jesus que irá produzir os frutos que Deus espera. E, de Jesus, a Videira Verdadeira, irá nascer um novo Povo de Deus. Hoje, como ontem, Deus continua a ser o agricultor que escolhe as mudas, que as planta e que cuida da sua vinha.

Os discípulos são os “ramos” que estão unidos à “videira” que é o próprio Jesus e que dela recebem vida. Estes “ramos”, no entanto, não têm vida própria e não podem produzir frutos por si próprios; necessitam da seiva que lhes é comunicada por Jesus. Por isso, são convidados a permanecer em Jesus (v. 4).  Supõe que o discípulo tenha já aderido anteriormente a Jesus. O importante é que o discípulo mantenha a sua adesão a Jesus, a sua identificação e comunhão com Ele. Se o discípulo mantiver a sua adesão, Jesus, por sua vez, permanece no discípulo – isto é, continuará fielmente a oferecer ao discípulo a sua vida.

O que é, para o discípulo, estar unido a Jesus? Em Jo 6,56 Jesus avisou: “Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele”… A “carne” de Jesus é a sua vida; o “sangue” de Jesus é a sua entrega por amor até à morte; assim, “comer a carne e beber o sangue” de Jesus é assimilar a existência de Dele, feita de serviço e entrega por amor, até ao dom total de si mesmo. Está unido a Jesus e permanece n’Ele quem acolhe no coração essa proposta de vida e se compromete com uma existência feita de entrega a Deus e aos irmãos, até à doação completa da vida por amor. A união com Jesus não é, no entanto, algo automático, que de forma automática atingiu o homem e que foi adquirida de uma vez e para sempre; mas é algo que depende da decisão livre e consciente do discípulo – uma decisão que tem de ser, aliás, continuamente renovada (v. 4).

Para os discípulos (“os ramos”), interromper a relação com Jesus significa cortar a relação com a fonte de vida e condenar-se à esterilidade. Quem se recusa a acolher essa vida que Jesus propõe e prefere conduzir a sua existência por caminhos de egoísmo, de auto-suficiência, de fechamento, é um ramo seco que não responde à vida que recebe da “videira”. Não produz frutos de amor, mas frutos de morte.

A comunidade de Jesus (os “ramos”) não pode condenar-se à esterilidade. A sua missão é dar frutos. Por isso, o “agricultor” (Deus) atua no sentido de que o “ramo” (o discípulo) se identifique cada vez mais com a “videira” (Jesus Cristo) e produza frutos de amor, de doação, de serviço, de libertação. A ação de Deus vai no sentido de “limpar” o “ramo” a fim de que ele dê mais fruto. “Limpar” significa chamá-lo a um processo de conversão contínua que o leve a recusar caminhos de egoísmo e de fechamento, para se abrir ao amor. Dito de outra forma: a limpeza dos “ramos” faz-se através de uma adesão cada vez mais fiel a Jesus e à sua proposta de amor (v. 2b). Os discípulos de Jesus estão “limpos” (v. 3), pois aderiram a Jesus, são a cada instante confrontados com a sua proposta de vida e respondem positivamente ao desafio que lhes é feito.

Se, apesar do esforço de Deus e do seu contínuo chamamento à conversão, o “ramo” se obstina em não produzir frutos condizentes com a vida que lhe é comunicada, ficará à margem da comunidade de Jesus, da comunidade da salvação. É um “ramo” que não pertence a essa “videira”.