O PENSAMENTO DO FUNDADOR DA FRATERNIDADE MONÁSTICA DOS DISCÍPULOS DE JESUS

A RESPEITO DA EXORTAÇÃO APOSTOLICA “AMORIS LAETITIA”

DO PAPA FRANCISCO


Padre2017  Sobre as questões, sem dúvida importantes e muito relevantes, contidas na exortação apostólica “Amoris Laetitia”, os fiéis tendem a ser mais pragmáticos que o clero, os religiosos e até os membros da alta hierarquia. Informam-se, leem, mas não parecem estar interessados em apoiar aquela tomada de posição que, ao invés, a imprensa, a televisão e os comentaristas profissionais querem, a todo custo, fomentar nos jornais ou diante das câmeras, desfrutando de cada situação (até mesmo das histórias tristes, contadas com morbosidade nos mínimos detalhes, de alguns sacerdotes que não seguiram a sua vocação). Sobre estes argumentos, assim indissoluvelmente ligados à vida do casal, ao matrimônio e aos filhos, os fiéis mostram mais pudor, mais respeito, pela fragilidade humana individual e pelas situações difíceis e problemáticas que, no âmbito da família e do matrimônio, esta sociedade nos apresenta hoje, de modo diferente, em relação ao passado. Na realidade não existe nada de estranho nisso, antes, é um sinal positivo, porque mostrar atenção, evitar julgamentos apressados, ponderar as condenações definitivas, meditar sobre as dificuldades concretas, é um dos modos para evitar desvios, para evitar sermos indiferentes, para evitar isolar-se e afastar os outros em uma sociedade globalizada, que já exclui quem é fraco para as exigências do mercado e do lucro. Talvez, tudo isto é o fruto do Jubileu extraordinário da Misericórdia e daquilo que nos quis recordar.

  Se, depois, vai se separar o dado geral, se percebe que uma boa parte do conteúdo difundido na web sobre a exortação apostólica “Amoris Laetitia” é, na sua maioria, tomada por posição extrema, que, por sua vez, gerou artigos sobre artigos, que querem nos contar de todas as formas e com licença de invenção o que acontece nos bastidores, aquilo que é vendido à opinião pública como o confronto final entre a Igreja que tem em mente o Papa Francisco, e aquela que querem defender incansavelmente os assim chamados conservadores. Mas, em tudo isto, onde está o Evangelho? E todo este anunciar lutas violentas à sombra da cúpula de São Pedro, onde está colocado o Evangelho?

papaebispos  Em suma, sobre os conteúdos da exortação, montou-se um caso midiático que, por fim, arrisca a desviar os fiéis de aprofundar aquelas importantes temáticas que, muitos esquecem, foram tratadas em profundidade e com uma ponderada e meditada votação final no sínodo dos Bispos sobre a realidade da família. Sínodo que foi aberto à participação e ao diálogo direto com as famílias e com os sujeitos que mais estão envolvidos por certas escolhas, e pelo debate que resultou. O Santo Padre não inventou nada, não construiu uma “nova doutrina” ou gerou “novo direito”. As acusações, muitas vezes movidas de forma velada, mas pungente, de uma traição do Santo Padre para com aquilo que a Igreja edificou através dos séculos, não encontram pontos de apoio, senão apenas porque a exortação nasce precisamente valorizando o quanto emergiu do sínodo dos Bispos, e dando-lhe uma autêntica interpretação, alicerçada seja no Magistério da Igreja, seja no evangelho.

  Sobre os conteúdos da exortação apostólica, se quis conscientemente traduzir aquilo que anima o debate político entre facções adversas. Mas a Igreja não é o parlamento de um Estado ou a arena dos partidos políticos, que disputam o poder executivo, a som de escândalos e de golpes baixos. Procurou-se perpetuar o conflito pessoal e a utilização de episódios parciais com a extrapolação do conteúdo do verdadeiro contexto, para gerar um clima de conflito perpétuo, que é o meio para alcançar outros fins menos nobres. Todavia, a Igreja é outra coisa, ela não é, de fato, a imagem distorcida que se quer passar. Este é um erro grave, porque, quanto realmente está contido na exortação apostólica merece ser lido, aprofundado, debatido e deve poder dar espaço à exigência do encontro e da misericórdia. Não está em discussão o direito de discordar de uma interpretação ou de querer aprofundar alguns aspectos. O que está errado, e é até perigoso, é usar o quanto não se concorda para justificar ou confirmar lutas de poder, para contestar a autoridade do Papa, para insinuar o dever de desobedecer-lhe, ou pior, desacreditar a imagem, tentando mostrar incompreensíveis cismas.

  A família, o matrimônio, o problema da comunhão aos divorciados, não podem ser o instrumento para alimentar divisões. Este clima deve ser desenvenenado; é necessário trazer de volta o debate no seu âmbito, depurando-o de quanto impróprio lhe foi jogado em cima. Estes argumentos não merecem ser lançados dentro de um grande caldeirão do qual tirar, em seguida, as armas de um conflito que, na verdade, pouco serve a quem sofre certas situações e que, sem sombra de dúvidas, vive uma situação difícil às margens da igreja. É bom que se esforce para trazer de volta a discussão sobre os justos binários.

06  A exortação final do Papa Francisco tornou-se assim, devagarzinho, uma estratégia para introduzir sempre mais a dúvida e a suspeita nos fiéis, fazendo intender que as aberturas e o novo modo de abordar a realidade da família, sejam um papel de torna sol da vontade de jogar por água abaixo a doutrina da Igreja, e de querer demolir os ditames.

  Alguns, deveras, viram nisto a tentativa de minar o ensinamento do Evangelho e a vontade de sair do rastro do ensinamento de Jesus Cristo. Mas tem coisa pior. Este “conflito” foi usado pela mídia, em perene procura de espetacularidade e sensacionalismo, para alimentar as vozes sobre um sempre mais difundido descontentamento com as reformas implementadas pelo Papa. Assim, o inteiro argumento dissimulou-se por um falso véu de luta de poder até à última gota de sangue dentro dos muros leoninos. Ao invés de abrir-se com lealdade e honestidade ao debate, que o Santo Padre nunca quis negar, preferiu-se difundir como mera fofoca e com vozes nos “bastidores” a convicção que sobre a Igreja há um grave perigo iminente. Note-se bem, isto não provem muitas vezes do comportamento direto de quem está nos vértices eclesiásticos, mas alimenta-se daquilo que se faz, se diz, se escreve, talvez impulsionado pelas melhores e mais excelentes intenções.

  Tudo isto está fascinando muito os jornais e as televisões, mas não tanto aos fiéis que, ao contrário, mostram interessar-se por aquilo que lhes preocupa de verdade, ou seja, participar ativamente da vida da Igreja, aprofundando o conhecimento e apoiando políticas laboriosas que procurem dar respostas concretas às exigências do homem de hoje. Homens emaxresdefault mulheres católicos que querem ser sempre fiéis ao Evangelho, à Igreja e por isso procuram as respostas àquilo que, a cada dia, a sociedade produz no seu desenvolvimento caótico imprevisível. De outro lado esta é a exigência da Igreja de hoje, sair e descer entre as pessoas, entre os fiéis, certo, mas também entre aqueles que não acreditam, que se afastaram; entre aqueles que querem fazer parte, mas estão convencidos de não serem dignos ou de não serem capazes; entre aqueles que se sentem pecadores mas têm vergonha de entrar para pedir perdão e ajuda. A imagem concreta de uma Igreja hospital de campo é precisamente esta. Os hospitais têm a missão primária de salvar cada vida humana, de curar cada doença, de trazer de volta à vida aqueles que estão mais próximos da morte. A semelhança com a Igreja tem algo de muito mais profundo que um simples abrir a porta, e necessita de uma reflexão com os olhos apontados sobre as palavras do Evangelho. É um verdadeiro pecado que tenha acontecido tudo isso. É um verdadeiro pecado que “Amoris Laetitia” tenha se tornado um terreno de briga, e que a percepção que se quis dar deste documento seja somente aquela de um duelo entre as duas almas da Igreja. É um verdadeiro pecado porque não há necessidade de ulteriores divisões em um mundo já muito dividido; não há necessidade de insinuações e de gestos anônimos em uma sociedade que já sofre pelas muitas fofocas; não há necessidade de alimentar conflitos na Igreja que Jesus nos recomendou manter unida e firme sobre o seu ensinamento. Ninguém é chamado a renunciar ao seu sacrossanto direito de expressão, de participação e de “sã” crítica, todavia, cada um deve fazê-lo com respeito, com honestidade, com lealdade e com o exemplo concreto de obediência.

a-man-healed  Cada documento do  Santo Padre deveria ser acolhido, tendo, antes de tudo, isto em mente, porque é certamente verdade que não é necessário submeter-se ao ponto de não poder expressar o nosso pensamento, mas não é menos verdade que a unidade da Igreja, da qual o Papa é o vértice, é algo que depende de todos nós. Eis porque cada um de nós, fiéis em Cristo, tem uma grande responsabilidade nisto e pode contribuir cada dia à unidade mais que à divisão da qual, em palavras, todos queremos fugir. A Igreja, ao final, é a nossa mãe e a própria mãe ama-se sempre.