Maio, mês de Maria

Tradicionalmente, o mês de maio é, para o católico, um mês dedicado à memória de Maria, a mãe de Jesus. Neste mês, particularmente, intensificam-se as orações marianas, sobretudo a reza do terço ou do rosário, encerrando-se o maio com a coroação de Nossa Senhora, normalmente encenada por crianças vestidas de anjinhos, representando a coroação de Maria no céu.
Uma pergunta que podemos nos fazer é: por que maio e não outro mês?


Sabemos que a Igreja, em tempos antigos, costumava cristianizar festas pagãs, ou seja, davam um sentido cristão a elas. No hemisfério norte, o mês de maio é celebrado em vários países europeus com festas em que se usam flores desabrochadas no auge da primavera. Com origem remotíssima, estas festas eram chamadas de “ludi floreales” ou “florealia”, sendo realizadas em honra de “Flora Mater”, a deusa da vegetação.
Afonso X, o Sábio, rei de Castela e de Leon no século XIII, foi a primeira pessoa conhecida a associar o mês de maio à figura de Maria, em uma de suas Cantigas, dedicada à celebração das festas de maio. Compreendeu ele que o modo mais digno de coroar estas festas e de santificá-las na alegria seria associá-la à devoção a Maria. No século seguinte, o dominicano Henrique Suso de Constância compôs saudações nas quais dedicava a primavera à Virgem Maria. Em 1549, o beneditino Wolfgang Seidl publicou em Munique, na Alemanha, o Maio espiritual, um esboço do mês mariano.
Em Roma, o mês mariano começa a se definir com São Filipe Neri, na segunda metade do século XVI, com o santo ensinando aos jovens a prestar homenagens a Maria com a ornamentação floral de suas imagens, com cantos de louvores em sua honra e com a prática de atos virtuosos e penitenciais. Em 1677, Pe. A. D. Guinigi, perto de Florença, começou a dedicar o mês de maio à Virgem, com exercícios de devoção, no dia 1º de maio, dia da antiga festa da primavera. Essas práticas, depois, foram sendo repetidas todos os domingos e, a partir de 1701, foram estendidas a todos os dias do mês.
O iniciador do mês mariano no sentido moderno de práticas cotidianas foi o jesuíta A. Dionisi, com sua obra “Mês de Maria”, publicada em Verona, Itália, em 1725, sendo seguido pelo futuro arcebispo de Gênova, G. M. Saporiti, que publicou em 1747 o “Mês de Maio”. Retomando as idéias destes dois últimos, o jesuíta A. Muzzarelli edita, em 1785, em Roma, o seu “Mês de Maio”, que marca um avanço na celebração do mês mariano: enquanto nas outras obras a comemoração de maio era uma prática familiar e das comunidades religiosas, na obra de Muzzarelli, passa a ser mais comunitária, celebrada nas Igrejas e paróquias. Dois anos mais tarde, Muzzarelli envia um exemplar de seu trabalho aos bispos italianos, que o acolhem favoravelmente, introduzindo essa devoção em toda parte, dando-lhe uma entonação mais eclesial, destacando os tríduos, novenas e procissões e os sacramentos da confissão e da eucaristia.
Na primeira metade do século XIX, o mês de maio como mês de Maria já está afirmado na Europa e na América, atingindo também os países de missão. Impulsionado pela definição do dogma da Imaculada Conceição (1854), o mês de Maria se consolidou definitivamente como celebração pública e solene. Os papas Pio VIII (1815), Gregório XVI (1833) e Pio IX (1859) conferiram-lhe indulgências.
Esta história do Mês de Maria mostra-nos que a Igreja incentivou, ao longo dos séculos, a devoção a Maria. No entanto, para evitar excessos e equívocos devocionais, o Concílio Vaticano II orientou que “As atenções dos fiéis sejam dirigidas principalmente para as festas do Senhor, nas quais se celebram, durante o ano, os mistérios da salvação. Por esse motivo, o próprio Tempo obtenha o seu devido lugar acima das festas dos Santos, a fim de que o ciclo integral dos mistérios da salvação seja convenientemente recordado” (SC 108).
O Papa Paulo VI, na Marialis Cultus, recomenda que o mês de maio mariano deve procurar sempre ver Maria em relação à história da salvação, ou seja, relacionada com o mistério pascal de Cristo e com o nascimento da Igreja. Não esqueçamos que o Tempo Pascal que vivemos, centralizado no encontro com o Ressuscitado e na espera do dom do Espírito em Pentecostes, serve-nos bem para pôr em prática e desenvolver o que está presente no livro dos Atos dos Apóstolos: a oração da Igreja nascente com Maria (cf. At 1,14). Se assim o fizermos, celebraremos a memória de Maria não à parte das festas pascais, mas inserida nelas e orientando nossas vidas para a experiência pascal de Cristo e para a novidade do Espírito. Assim seja!