A VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO IRAQUE UM PRIMEIRO SALDO

Foto: Vaticano

A VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO IRAQUE

UM PRIMEIRO SALDO

Qual foi o saldo da visita do Papa Francisco ao Iraque entre 5 e 8 de março, uma visita histórica, a primeira de um pontífice a um país muçulmano do Golfo de maioria xiita?

No plano humano, não se pode negar que foi um gesto de coragem, alguns até mesmo disseram temerário. Politicamente, provavelmente não haverá grandes consequências.

Mas o Papa é o Vigário de Cristo e estamos interessados em um equilíbrio em nível religioso.

No dia 5 de março, chegando ao Iraque, o Papa Francisco dirigiu-se às autoridades iraquianas da seguinte maneira: “Venho como um penitente que pede perdão ao céu e aos meus irmãos por tantas destruições e crueldades e venho como um peregrino da paz, em nome de Cristo, Príncipe da Paz“.

Jesus Cristo é o príncipe da Paz, a verdadeira paz, sob o único Salvador, mas Francisco não mencionou a Cristo em seu discurso inter-religioso feito na planície de UR, no dia 6 de março.

Em 7 de março, o Papa Francisco esteve em Qaraqosh, onde em 2014 a catedral foi profanada, as estátuas decapitadas, os livros sagrados queimados. Dirigindo-se aos cristãos deste lugar, o Papa disse: “Olhando para vocês, vejo a diversidade cultural e religiosa do povo de Qaraqosh, e isso mostra algo da beleza que sua região oferece para o futuro. A sua presença aqui nos lembra que a beleza não é monocromática, mas brilha na variedade e nas diferenças”.

A diversidade cultural e religiosa é indicada por Francisco como melhor do que a unidade religiosa, que é considerada “monocromática“, mais pobre, porque tem uma só cor. O modelo, portanto, não é uma unidade religiosa, cristã ou islâmica. O modelo é a pluralidade religiosa, poisa beleza não é monocromática, mas brilha na variedade e nas diferenças”. Isso leva à conclusão de que não existe religião que salva, mas todas conduzem ao mesmo Deus, que pode ser alcançado por diferentes caminhos. Jesus Cristo não é o único Caminho, Verdade e Vida, até mesmo Maomé pode ser, porque Alá, o deus do Islã, não é diferente daquele dos judeus e cristãos. Mas se for esse o caso, por que permanecer cristão em um país islâmico, ao custo de tanto esforço, tanto sofrimento, tanta perseguição que pode levar à perda de todos os bens e até da própria vida?

Como contrasta esta ideia com as palavras de Nosso Senhor que no Evangelho diz: “Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai, e dou a minha vida para as ovelhas. E eu tenho outras ovelhas que não são deste aprisco: essas também eu tenho que dirigir. Elas ouvirão a minha voz e se tornarão um só rebanho, um só pastor” (Jo 10,11-18)!

O Papa Francisco falou de Cristo na homilia da Missa de 7 de março em Erbil, afirmando que “Só Ele pode nos purificar das obras do mal, Aquele que morreu e ressuscitou, Aquele que é o Senhor“, mas então, no final da Missa, saudando o Patriarca da Igreja Assíria do Oriente, disse: “Obrigado, obrigado, querido Irmão! Com ele, abraço os cristãos das várias confissões: muitos aqui derramaram o seu sangue na mesma terra! Mas nossos mártires brilham juntos, estrelas no mesmo céu!”.

Existe, portanto, o mesmo céu, para um mártir cristão e para um mártir islâmico? O paraíso celestial dos cristãos e o paraíso terrestre dos muçulmanos são iguais?

Esta não é a religião católica, nem a muçulmana, mas parece ser uma religião diferente, sincretista e humanitária, professada por aquele que é Vigário de Cristo, mas que não exerce a função de Pastor Supremo da Igreja que Jesus Cristo confiou a ele.

Esta é a triste e dolorosa realidade. Não descobrimos essa realidade na viagem ao Iraque. A viagem ao Iraque não acrescentou nada de novo ao que sabíamos, mas o vaticanista John Allen está certo quando diz que a viagem de Francisco ao Iraque de 5 a 8 de março não é, de fato, “a maior viagem papal de todos os tempos, talvez, mas a mais emblemática, aquela que melhor resume o espírito de um papado e a sua mensagem para o mundo no seu momento histórico”.

Que espírito e que mensagem? Infelizmente, parece que o modelo indicado aos fiéis de todo o mundo não é mais Roma, a infalível cadeira da fé, mas o Iraque, a terra que pertenceu a Abraão, mas também à Torre de Babel. E a utopia de Babel reaparece na era confusa e dramática da pandemia.

Artigo: Professor Roberto de Mattei

Tradução: FMDJ