A CONFISSÃO

Uma prática cada vez mais difundida nos confessionários é a de absolver o penitente sem, no entanto, atribuir-lhe uma penitência, ou seja,a boa obra imposta pelo confessor para punir e corrigir o pecador, e descontar a pena temporária merecida pelo pecado” ((n. 382, Catecismo de São Pio X depois Cat.).

Embora isso não invalide a Confissão, ainda é um dano que o penitente sofre.

A confissão remove a penalidade eterna (no caso do pecado mortal), mas não tira toda a pena temporária. Só na presença da chamada contrição perfeita (muito difícil) é que as orações ou o que quer que seja indicado ao penitente conseguem tirar tudo (cf. nn. 381 e 384 Cat.).

Nós sabemos disso com certeza. O Concílio de Trento, de fato, condenou aqueles que afirmaram o contrário: “se alguém afirma que depois de ter recebido a graça da justificação, qualquer pecador arrependido é perdoado da culpa e cancelado a dívida do castigo eterno de forma que nenhuma dívida fique de castigo temporal a ser cumprido tanto neste mundo como no futuro, no purgatório, antes que a entrada do reino dos céus possa ser aberta a ele, é anátema ”(Sess. VI, cân. 30).

A explicação para isso é simples.

A gravidade de uma ofensa é avaliada com base no objeto. Uma ofensa é tanto mais séria e, portanto, difícil de consertar quanto mais importante é o objeto. Por exemplo, uma coisa é ofender qualquer pessoa, outra é ofender qualquer pessoa que ocupe cargos públicos (o Código Penal prevê circunstâncias agravantes para os crimes contra funcionários públicos e encarregados de serviços públicos).

Agora, se isso é verdade nas relações entre os homens, é ainda mais verdadeiro nas relações com Deus.

Ele é “o Ser mais perfeito” (n. 2 Cat.), que não tem defeitos e limites, “é potência, sabedoria e infinita bondade” (n. 3 Cat.). É, portanto, infinito, eterno (No. 8 Cat.).

Por outro lado, por ser criatura, o homem possui limites objetivos que o tornam um ser finito.

É claro então que a ofensa feita pelo homem contra Deus assume uma gravidade infinita, é “moralmente infinita” (Dicionário de Teologia Dogmática, Parente-Piolanti-Garofalo, Ed. Studium, 1952). É algo que o homem não pode consertar totalmente apenas com suas próprias forças. A ação mais merecedora feita por um homem não é nada comparada ao valor infinito das menores ações de Deus.

À luz do que foi dito, é compreensível que a penitência sacramental atribuída ao penitente não consiga eliminar toda a pena temporária, mas apenas uma parte dela, às vezes até mínima.

Sabemos, pois, que «a alma (…) se tiver algum pecado venial ou alguma dívida de castigo, vai para o purgatório até ficar satisfeita» (n. 99 Cat.). Isso porque nenhuma mancha, mesmo a mais leve, pode ter a alma que está no Paraíso, na presença da Pureza infinita. Pelo que foi dito, portanto, parece muito provável que uma alma passará no Purgatório antes de chegar ao Paraíso.

E esta é a razão pela qual no passado eram atribuídas penas muito severas: para ajudar a alma do penitente a lavar o máximo possível da mancha temporária.

Entende-se, portanto, também, por conseguinte, porque não atribuir qualquer penitência envolve dano aos fiéis: os muito brandos que se costumam dar hoje já não ajudam, imaginemos o que significa não atribuir nenhuma.

Deixar o penitente sair do confessionário sem ter-lhe dado uma penitência significa não o deixar tirar qualquer punição temporária que tem de suportar após o pecado. Significa, portanto, não o ajudar a reduzir ao máximo o tempo que sua alma passará no Purgatório, para mantê-lo afastado do Paraíso por ainda mais tempo. Se isso não for um dano …

Talvez não tão grave quanto outros, mas em todo caso é um dano: menos tempo a alma passa na graça da visão beatífica de Deus, o bem maior.

O atual Código de Direito Canônico também destaca a importância da atribuição da penitência ao confessor, cuidando para estabelecer: “o confessor deve impor satisfações salutares e adequadas” (Can. 981).

O adjetivo usado, “oportune“, tem um duplo sentido, na opinião do escritor: a satisfação é oportuna (portanto, convém atribuir penitências) porque é justo reparar a Deus, mas também o é para os fiéis, que assim também se purificam. de todas as punições temporárias possíveis.

Pode-se dizer, entre outras coisas, com grande margem de segurança, que o confessor que não atribui penitência ao fiel incorre em pecado.

O raciocínio leva, de fato, a pensar que contribuir de alguma forma para o maior sofrimento de uma alma (no Purgatório isso acontece, não é um passeio no parque) envolve uma responsabilidade.

Como já disse outras vezes, a não atribuição de penitência, nada mais é do que o efeito de um valor menor, senão até nulo, valor atribuído por alguns à Confissão em geral e à necessidade de reparar as ofensas sofridas por Deus.