O poder da invocação do nome de Maria

Sobre a ação da Virgem Maria contra Satanás durante os exorcismos e na caminhada de libertação, o célebre exorcista padre Cândido Amantini – que exercia o seu ministério na Basílica as Scala Sancta [Escadaria Santa], em Roma, onde faleceu no odor de santidade em 1992 – escrevia assim no único livro que publicou em vida, com o título Il mistero di Maria:

“Assim como, através dos possessos, Satanás é obrigado a reconhecer abertamente o poder de Jesus Cristo contra ele, assim também é obrigado a confessar a força do pé imaculado de Maria, que lhe espezinha continuamente a cabeça. A propósito, temos numerosos testemunhos de santos e de muitos sacerdotes que tiveram de lutar diariamente com Satanás por meio dos exorcismos.

O Ritual Romano dos exorcismos estabelece, numa nota, que o sacerdote exorcista investigue cuidadosamente os efeitos e os sentimentos que poderão observar-se nos endemoninhados, depois das invocações e louvores dirigidos a Deus a aos santos, e também depois das ordens imperativas dadas aos demônios, de modo a poderem conduzir-se adequadamente no decorrer dos exorcismos. Na verdade, a ação de Satanás desencadeia tais resultados psicológicos nas suas vítimas, para quem, como por uma indução imediata, as pessoas manifestam as suas próprias reações. Ora, das experiências feitas resulta exatamente isto: quase nenhuma outra coisa provoca tamanho tormento a Satanás quando a invocação do nome de Maria. Ordinariamente [nda: durante o fenômeno da possessão, as pessoas] não conseguem sequer pronunciar livremente o seu nome, por mais que se esforcem. Depois há devoções marianas que os demônios não suportam, já que os possessos só a muitíssimo custo as podem praticar. Entre elas está a Ave Maria, o tributo diário de São Boaventura e o Rosário.

Com igual evidência se mostra o poder da Virgem ao esmagar os demônios dos corpos dos possessos, pelos resultados que se obtêm com uma constante devoção mariana. De fato, através dEla, eles (os possessos) chegam a melhorar muito. Mesmo aqueles demônios particularmente duros e obstinados que, como diz o Evangelho (cf. Mc 9,28), não cedem a não serem a meios extremos, as suas forças enfraquecem rapidamente quando têm de enfrentar uma proteção especial da Virgem. A experiência ensina que todos os que recorrem a Ela nessas circunstâncias com grande devoção filial, mais cedo ou mais tarde acabam por sair delas”. 1

O popular exorcista italiano Gabriele Amorth, no seu livro Nuovi racconti di um exorcista, descreve pormenorizadamente a ação de Maria no exorcismo e na caminhada de libertação, referida pelo padre Cândido, de quem ele foi discípulo: “Palpamos a verdade de que Maria é realmente medianeira de graças, porque é sempre Ela que obtém do Filho a libertação de alguém das garras do demônio. Quando se começa a exorcizar um endemoninhado, um daqueles de quem o diabo se apossa realmente por dentro, somos insultados e gozados: ‘Eu estou aqui muito bem… Nunca sairei daqui… Tu não podes nada contra mim… És muito fraco e estás a perder o teu tempo…’. Mas, pouco a pouco, Maria vai entrando em campo e a música começa a mudar: ‘É Ela quem quer… Contra Ela não posso nada… Diz-lhe que deixe de interceder por esta pessoa… Ela ama muito esta criatura… Bem, para mim acabou…’. Também me aconteceu muitas vezes ser-me logo atirado à cara a intervenção de Nossa Senhora, desde o início do exorcismo: ‘Eu estava aqui tão bem, mas foi Ela quem te mandou… Sei porque é que vieste, porque foi Ela que quis… Se Ela não tivesse intervindo, eu nunca te teria encontrado…’.” 2

No mesmo volume, o padre Gabriele Amorth aconselha quem estiver em dificuldade ou desesperado que diga a bela jaculatória de São Boaventura: “Maria é toda a razão da minha esperança”. Estas palavras impressionaram-no muito desde a sua juventude; de fato, à primeira vista, parecem apenas devocionais; mas, na realidade, exprimem a grande verdade da mediação materna de Maria, em Cristo. Todas as graças, todos os dons de Deus, chegam até nós com tanto maior abundância quanto mais autenticamente devotos formos de Maria, acolhendo com amor a sua ação materna e confiando-nos totalmente a Ela. Por isso, Gabriele Amorth termina o seu livro, dizendo: “São Bernardo não hesita em exprimir estes conceitos com uma afirmação corajosa que marca o ponto mais alto do seu discurso e que inspirou a Dante aquela famosa oração à Virgem: ‘Veneramos Maria com todo o ímpeto do nosso coração, dos nossos afetos e dos nossos desejos. Assim quer Aquele que estabeleceu que recebêssemos tudo por intermédio de Maria.’ É esta experiência que, concretamente, todos os exorcistas experimentam sempre”. 3


1 C. AMANTINI, Il mistero di Maria, Frigento (AV), Casa Mariana, 1987, p. 329.

2 G. AMORTH, Nuovi racconti di um exorcista, Roma, Edizioni Dehoniane, 1992, pp. 220-221 [trad. port.: Novos relatos de um exosrcista, Paulus, 2004].

3 Ibdem, pp. 221-222.